POR RICARDO BRUM em EXPEDIÇÃO JACUÍ 385 KM
Em 2017 durante a etapa de pesquisa e preparação da logística para a expedição “Jacuí 385 km de Remo”, encontrei referências de uma ponte antiga em ruínas que eu nunca havia ouvido falar. Citada apenas como ponte de Don Pedro e ponte Queimada, mas sem nenhum registro de localização, tornou-se um objetivo a ser explorado durante o percurso de remada.
No
planejamento da expedição, mapeamos diversos locais pitorescos, históricos e
geralmente esquecidos que pretendíamos visitar. Uma grata surpresa aconteceu no
nosso terceiro dia de remada, que tinha como meta chegar ao Passo de São
Lourenço , antigo local de travessia do rio pelos Jesuítas e suas caravanas, onde
deveríamos pernoitar na casa de apoiadores da nossa aventura.
E foi neste
trecho que após cruzarmos a ponte ferroviária sobre o rio, numa curva poucos quilômetros
abaixo nos deparamos com enormes pilares antigos abandonados, feitos de pedra
gres, caprichosamente trabalhados e encaixados.
Seria ali a antiga ponte histórica?
Para
esclarecer isso paramos logo abaixo em uma velha balsa de travessia ainda em
atividade. Conversando com o balseiro, um senhor muito camarada, com as marcas
do tempo esculpidas em seu rosto, reporto sobre nossa expedição, das histórias
do rio que eu vinha resgatando e ele fica fascinado e começa a contar a
história do lugar. O papo evolui, ajudo-o na operação de travessia com a balsa
pelo rio enquanto o amigo Beto Virote
reboca meu caiaque até a margem oposta.
O velho
balseiro de nome Guinho muito entusiasmado nos convida para subirmos até sua
casa onde nos mostra um documento sobre a ponte, nos conta muitas histórias da
região, dos objetos achados, das assombrações e das peleias ocorridas. Chegando
a casa simples logo acima do barranco do rio ele busca umas folhas impressas enviadas
por um historiador que passou por ali anos atrás pesquisando sobre o local e a
história da ponte. Seu Guinho guarda o documento como um troféu, cheio de
orgulho e nos mostra complementando as histórias contadas.
A ponte foi
construída na década de 1840 para passagem da comitiva de Don Pedro II, com
pilares de pedra e parte superior em madeira.
Alguns anos depois durante alguma peleia de revolucionários na região, a
ponte foi incendiada para que os inimigos não a utilizassem. Mas tarde a
estrutura da ponte foi avaliada e concluíram que não valia a pena reconstruir,
pois diziam que os pilares não resistiriam. Hoje cerca de 170 anos depois
ironicamente os pilares estão ali, firmes, fortes e cheios de histórias.
Outra
surpresa neste encontro foi o inusitado animal de estimação na casa de seu
Guinho, um pequeno graxaim que convivia com seus filhos no pátio. Que manso e
brincalhão mordiscava minha mão com seu dentes pontiagudos de cão selvagem até
furar a luva de remada.
Partimos
remando rio abaixo e deixamos seu Guinho na velha balsa esperando seu próximo
cliente para atravessar o velho rio, debruçado no corrimão amarelo, fumando seu
palheiro. Pensativo, agora com mais uma história para contar dos quatro caiaqueiros
malucos que remaram 385 km no Jacuí.
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